Você cuida da sua árvore?

A árvore que você cuida, chamada empresa

Não é uma pergunta à toa, nem boba, é bem séria. Muitas pessoas não entendem do próprio negócio, algumas nem o conhecem direito, outras não fazem ideia do que estão fazendo, como se tivesse uma árvore em casa e só olhassem para ela. 

Todos os dias devemos aprender mais sobre nosso mercado e menos sobre o amor que sentimos por ele. Amor é assunto para outro texto, mas hoje é dia de pé no chão e não estou lá muito romântica! Todos os dias correr atrás do que está acontecendo na sua área, com sua clientela, é regar aquela plantinha, que jajá virará uma árvore gigante. Adubar com o adubo certo, podar de vez em quando e regar sempre fortalece a árvore. Do contrário, o apego às folhas pode comprometer o equilíbrio, o excesso ou a falta de água comprometem a raiz e a falta de luz não deixa a planta respirar. 

O adubo do negócio é a constante atualização do mercado. Algumas vezes dá muito certo e esse adubo é usado por muito tempo. No entanto, o mesmo adubo pode não servir mais, o que leva a testar outros. Essa “troca” de adubo é conhecida como pivotar o negócio. Esse termo é bem conhecido entre as startups, e indica o momento de repensar sobre o escopo do negócio, dar um passo atrás, fazer os ajustes corretos e dar dois passos à frente, explicando de forma bem resumida (e ecológica! rsrs). A poda é o ajuste financeiro. Mudam índices, impostos, folha de pagamento. Hora dos cortes. Conhecendo bem seu negócio, seu fluxo financeiro e projeção financeira de acordo com a variação do mercado, ou seja, podar as folhas na hora certa, vai deixar seu negócio bem mais enxuto e funcional para a próxima estação.  

A rega é aquilo que sua árvore mais gosta e precisa: carteira de clientes. De nada adianta decorar uma porção de fórmulas prontas vendidas por aí de como encantar seu cliente se você nem sabe quem ele é. É como regar uma planta com café, ao invés de água. Isso mesmo! Dar ao cliente o que ele precisa é um ofício que requer acuracidade de análise, construção de jornada, engajamento contínuo e fidelização. Aproveitando, café é uma delícia, mas não para árvores…

Vire um agricultor do seu negócio! Veja se é um jardineiro de verdade ou se é um mero admirador de plantas com entusiasmo vazio. 

Papai Noel e a logística perfeita

Você já teve curiosidade de como uma operação logística acontece? Vem comigo que vou te explicar de uma maneira bem…digamos…lúdica!

“Mamãe, como o Papai Noel consegue ler todas as cartinhas, fabricar os presentes, entregar tudo em um único dia e não receber nenhuma reclamação”? Essa era eu, quando criança, constrangendo minha mãe e fazendo com que seu lado criativo e mágico me desse uma resposta rápida que sanasse minha dúvida cruel. Ali estava uma criança de 5 anos que, em muito pouco tempo, deixaria de acreditar no bom velhinho por duvidar de suas habilidades logísticas e uma mãe frustrada por não ter me satisfeito a curiosidade com a teoria da “magia do Natal, onde os duendes ajudariam o Papai Noel com tudo e tudo daria certo no dia 25”. 

Desculpe, mamãe, mas minha dúvida perdurou por tanto tempo que fui atrás das respostas e agora compartilharei com meus leitores. 

Como elaborar uma operação tão perfeita, on time e zero de logística reversa, que deixa 100% dos clientes felizes e as operações da Amazon e da FedEx no chinelo? Rá! Lá vou eu! Sigam meus passos:

  1. Todo o projeto operacional do natal subsequente deve ser elaborado no primeiro dia útil após a última entrega do dia 25 de dezembro. Isso significa que o período de férias dos funcionários não é por essa data, mas bem depois. Se pensarmos em legislação trabalhista brasileira, certamente o sindicato dos duendes já teria brigado feio com o pobre idoso, mas estamos falando do Pólo Norte, certo? Eita! O que será que se fala sobre legislação trabalhista lá? Nem consigo imaginar como seria fazer greve naquele frio… Sigamos…
  2. Imagino que toda a equipe esteja bem estruturada, com funções muito bem azeitadas. O comercial já conversou com o marketing, que, é claro, se dá muito bem com o departamento financeiro. Não ria! Estamos falando do Papai Noel e esses departamentos têm comunicação mais que eficiente, com fluxo de informações muito bem estruturado, cultura organizacional perfeita e começam as cotações e contratos com os fornecedores. 
  3. Todos os fornecedores são perfeitos! Matéria-prima disponível para a maioria dos pedidos dos pequerruchos, que devem pedir – de novo – brinquedos de presente. Ah, não?! Qual o histórico de pedidos dos últimos natais? Eletrônicos, telefones? Mas isso teremos de solicitar a países manufatureiros. Temos acordos comerciais? 
  4. Tudo lindo, pedido enviado às fábricas, matérias-primas importadas, chão de fábrica de férias coletivas, diretor comercial maluco e financeiro de licença médica. Não, não! Duendes não adoecem nem tiram licenças. Todos estão de férias 100% remuneradas num paraíso dos duendes, num lugar bem quentinho, sol, praia, duendes em trajes de banho…(eita, visão distorcida!)
  5. Mãos à obra! Os pedidos já foram enviados e recebidos, todos eles. Vamos separar os possíveis, dos quase possíveis, dos impossíveis. Ué…mas o Papai Noel não traz tudo o que pedimos? “Eu quero que meus pais voltem a ser casados; quero um irmãozinho; um emprego para mamãe; a cura do câncer da vovó”. Manda esses pedidos de volta aos pais e explique que nossa empresa não vende tais produtos e que nem podemos falar sobre direito de regresso se a criança reclamar por perdas e danos. 
  6. Fabricação funcionando! Método Toyota, just-in-time, tudo fluindo bem, sem maquinário ocioso, sem falhas. O marketing a todo vapor, com propagandas no mundo dos mortais dizendo: “peça pros seus pais”. Nada de propaganda enganosa. Ou abusiva. Ou exagerada, tipo refrigerante famoso. 
  7. Eu falei das renas? Um terço da frota de renas foi terceirizada, já que as pobres coitadas das renas locais só arrumam emprego uma vezinha ao ano. Todas bem alimentadas e treinadas por Usain Reindeer Bolt – o treinador de renas mais famoso do mundo. Mas onde vai caber tantos pedidos nesse container de apenas 40 pés, Papai Noel? Digo, nessa sacola vermelha? 
  8. Toda a frota marítima, aérea, rodoviária e malha ferroviária mundiais param suas operações para auxiliar Papai Noel, o maior courrier do universo. Não duvide de sua capacidade door-to-door, pessoa incrédula! Ele consegue! Multinacionais o auxiliam como pontos de distribuição, expedição e embalagem. Lá vai ele, começando os trabalhos por volta das 22:00 de algum local de referência e terminando 24 horas depois, onde seria o mesmo horário de início. 
  9. Voilá! Papai Noel conseguiu! Lá vai ele descansar um pouquinho, pois é idoso e precisa colocar os pés para cima e tomar seu remédio para pressão. Todos comemoram na empresa,  a operação foi um sucesso!

Acorda, criança! Tudo não passou de um mito e a logística perfeita não existe. Existe o nível de serviço, o compartilhamento de operações, a terceirização bem elaborada, a gestão de fornecedores, frota e carteira de clientes. Não se preocupe, já chorei no seu lugar, e minhas lágrimas me levaram a estudar logística na fase adulta. Papai Noel me ajudou bastante.

A resposta é a pergunta

Hoje em dia podemos dizer que existe Google pra tudo, certo? Qualquer dúvida, vamos lá…! digitamos e pronto! Resposta pronta!

Uma das maiores empresas do mundo tem como modelo de negócios responder às perguntas que as pessoas fazem. O problema das perguntas que as pessoas fazem é que elas ficaram tão superficiais e sem imaginação que o robozinho já consegue adivinhar qual pergunta será feita em 3 palavras digitadas. Isso porque as pessoas perguntam sempre as mesmas coisas, o tempo todo, todos os dias. Modelo de negócios incrível, que todos conhecemos e adoramos, não é mesmo?

Mas se já há tantas respostas, qual a importância da pergunta? Qual seu valor para as pessoas e para os negócios? O que há de tão especial em formular perguntas?

Pra começar do começo (desconsidere o pleonasmo e foque na lógica do raciocínio, onde não vou dar a resposta final antes, a fim de proporcionar logo o conforto da resposta, o que finalizaria meu texto aqui mesmo), vamos pensar em conceito de mundo e evolução. 

David Cooperrider disse que “nós vivemos no mundo que nossas perguntas criaram”. Profundo, não? Pense um pouco mais sobre essa assertiva e lembre-se de como nosso mundo evoluiu exatamente por causa das perguntas que nossos antepassados fizeram, geralmente de forma provocativa e com foco em mudanças. Já pensou se já tivessem encontrado as respostas para tudo? Nossa tecnologia seria a mesma? Nossa forma de viver seria igual? Com certeza não. Acredito que viveríamos numa calma e entediante vila de pessoas conformadas e pseudofelizes…

O problema da pergunta é o desconforto que ela causa. 

Pense numa criança na faixa etária entre 2 e 5 anos. Sabe quantas perguntas elas fazem, em média, por dia? Não chute, pergunte a algum pai ou mãe… ou…Respondo: 500! Isso mesmo! Não é chute, é estatística, um pestinha questionador passa um dia inteiro perguntando, até seus pais o mandarem calar a boca e parar de perguntar. Por que temos que parar de perguntar, se a exploração do mundo à nossa volta depende de questionamentos? 

Agora pense num cientista que não faz perguntas. Onde acha que ele vai chegar, se não esgotar sua fase exploratória com inúmeros questionamentos? Essa vou deixar você mesmo responder, pois é fácil. 

A grande questão é que, quanto mais as respostas estão disponíveis, mas necessárias são as perguntas. Não conseguimos falar em inovação, por exemplo (eita, palavra falada nos últimos anos!), sem levarmos em conta que o ponto inicial dela é exatamente a pergunta estruturada. Não há um passo à frente sem essa disrupção de paradigmas, construída exatamente com a ferramenta mais afiada que existe: a pergunta. 

O questionamento é a maior ferramenta para se repensar e reinventar a vida. Tanto é verdade que grandes empresas estão integrando o questionamento no DNA organizacional e, não à toa, percebemos que especialistas têm a propensão de serem questionadores fracos, pois já pararam de pensar porque já sabem sobre determinado assunto. Sem desvalorizar os especialistas, já notamos que eles estão cada vez mais raros e menos exigidos no mercado de trabalho. Por quê? Porque líderes bem sucedidos e criativos têm como característica principal serem questionadores experientes. 

É importante e necessário romper os padrões habituais e as hipóteses fáceis com perguntas bem estruturadas. Como bem estruturadas podemos entender aquelas onde o desconforto reside, aquelas que tiram da sua cabeça o que você já sabe e lança um olhar à frente, ao maior. É necessário ter a coragem de se manter perguntando por toda a vida, seja profissional ou pessoal. A evolução sempre vem disso. 

Pense em perguntas, antes de ir atrás de respostas, e não se preocupe com soluções o tempo todo. Disse Uri Levigne o seguinte:

“ Se você começar com uma solução, pode estar construindo  algo que ninguém se importe.” 

Não comece com soluções, com respostas. Comece do começo. A resposta está na pergunta.