Caçadora de mitos: A lebre e a tartaruga

O mito das metodologias de trabalho e projeto

Lembra daquela tartaruguinha fofa da fábula, que chegou em primeiro lugar na corrida contra a lebre ligeira? Aquela que sua mamãe, vovó ou professora te contou, acompanhada de uma linda lição de moral sobre ser persistente (e lento)? 

Então… hoje eu vou fazer a lebre chegar em primeiro lugar na corrida, já que estou escrevendo sobre mitos. Embora seja uma fábula a referida obra, o mito a ser derrubado é o da lentidão vencedora contra a gestão ágil. Tirem as crianças da sala, para que não cause possíveis traumas a estorinha tão bem escrita, por favor.  Não se traumatize também, combinado? Respeito profundamente o Esopo e só me apoderei da lição para transpor ao mundo dos negócios. 

Vamos ao início da corrida, onde a lebre já se viu vencedora por ter uma adversária tão fraca. Quais as chances que uma tartaruga tem de vencer uma lebre em uma corrida? Nenhuma! Por que a tartaruga de Esopo venceu? Por soberba da lebre, que se valeu de sua elevada capacidade para usá-la contra si. Correu, correu e parou para descansar à sombra, enquanto sua adversária, a passinhos lentos, ultrapassou, perseverante e em silêncio, atravessando a linha de chegada. 

Muito bem. Digamos que temos duas grandes profissionais competitivas, disputando uma prova onde é preciso cruzar uma linha, seja ela qual for, atingir o maior market share, projetar internacionalmente a marca, conquistar o maior número de adesões. 

Uma é totalmente preparada para aquela prova, é ágil e tem seus entregáveis baseados em iterações, isto é, suas entregas são menores e mais rápidas, porém incrementais. Além disso, ela integra continuamente sua equipe e promove a melhoria contínua e adaptação dos processos de trabalho. Ela também desenvolve de forma ágil seus produtos, baseando-se na agilidade, na comunicação e na capacidade de inovação em curto prazo. Ao invés de seguir etapas fixas, ela distribui os projetos de sua empresa em ciclos rápidos e entregas incrementais, possibilitando que seus clientes acompanhem os resultados e participem dos processos, percebendo entrega de valor e diminuição significativa de processos burocráticos. Senhoras e senhores, conheçam a nova e recauchutada Srta. Lebre 4.0!!! (Acho que exagerei no nome, mas tá UAU!, né?)

A outra é aquela que só consegue trabalhar com etapas fixas em análise, produção, testes e manutenção. Ela é bem organizada, adora ter todas as etapas dos seus projetos bem descritinhas no seu software antigo, mas cheio de barrinhas horizontais coloridas, que fiscalizam o trabalho que a equipe se propôs a seguir, mesmo sabendo que nenhum prazo praticamente será cumprido, nem se o orçamento inicial corresponde ao ROI calculado pela equipe financeira, com quem ela nem cruzou na copa enquanto tomava seu cafezinho, pois o valor do projeto foi fechado junto com o escopo, o que vai levar a pobre coitada a ouvir gritos do financeiro se houver quaisquer alterações. Com vocês, Srta. Tartarugaaaaa!!! (Holofotes, por favor)

Nem vou me dar ao trabalho de narrar a prova, pois ela não vai acontecer, aqui na minha fábula empresarial. Na-na-ni-na-não! Nem adianta chorar, essa corrida tem que acontecer na sua cabeça criativa, que já lê meus textos há um certo tempo e já foi instigado a botar a criatividade para rodar. Só uma dica: a lebre não descansou durante a prova. Só no fim do dia, ou no fim do projeto, quando foi pegar um bronze no Caribe, com seu produto rodando bonito, o dinheiro entrando, a equipe feliz e contente recebendo um cartão postal do mojito que a lebre bebera. 

Enquanto isso, a pobre Tartaruga, despenteada e cansada, tenta acalmar sua equipe, ajusta todos os prazos pela terceira vez, adapta os parcos recursos que a empresa nem sabia que tinha e o cliente vocifera ao telefone. 

Moral da minha história (com “h”)? Quem sou eu para dar lição de moral em alguém!? Não, pequeno gafanhoto, eu só te disse que a Lebre venceu a Tartaruga porque foi ágil e esta, tradicional. Uma usou uma metodologia mais moderna e eficaz (Ágil mesmo que chama) e a outra ainda caminha vagarosamente para a linha de chegada. 

Vá para sua caminha hoje pensando em ser lebre e trabalhe a agilidade enquanto processo e metodologia. Desprenda-se do tradicional e devolva a tartaruguinha ao mar. Afinal, tartarugas não foram feitas para correr. Bons sonhos!